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Mostrando postagens de julho, 2013
      O telefone tocou na calada da noite, sacudindo a mesa. Meus olhos se abriram e saltariam para fora se não os tivesses segurado. Tudo bem, foi um susto, mas quem poderia ser?       Lutei contra meu corpo e escutei o terceiro toque. As luzes do relógio estavam confusas, porém tinha certeza de que tarde era. Me pus de pé, peguei o telefone e ainda embriagado pelo sono, esperei alguém falar.       - Cuidando bem da invenção? Da minha invenção?       Mantive o silêncio, mas perdi a calma. ''Invenção!'' A palavra ecoava dentro da minha mente. Não tive resposta para o enigma.       - In-ven...       - Não gagueje, homem, pois a minha invenção não merece aprisionar suas dúvidas e incertezas.        Foi o limite! Sou dependente do sono, mas não um covarde.       - Quem está falando, e que diabos de invenção é essa? - Perguntei.       - Meu caro...       - Ei, não sou nada seu, e tenho a impressão de nem te conhecer - continuei.       - Isso não é problema, porque
      Um grito seco. Foi o bastante para sentir pena do ser de penas coloridas. Um ser, um papagaio. Ali, caído com o peito estufado e o bico truncado na parede branca desgastada pelo tempo.       Os minutos passaram, porém ele não acordou. Sintomas iniciais de alcoolismo descartados, e a certeza logo chegou. A idade deve ter pesado, se tratava de uma morte.       Hora do óbito:16:20. Hora do chá. Algo quente para tentar acabar com o vapor da tristeza.       Um vento soprava de trás para frente. As penas balançavam, indo e vindo como um balanço desgovernado. Uma tarde memorável, diria mais. Foi muito tarde para despedidas ou cerimônias.       Os amigos estavam voando por aí, cantando em muros e fugindo das atiradeiras.       A vizinhança não mais escutava o canto brando do papagaio tênue. A harmonia foi rompida. Lá se foi sem dizer adeus.                  Billy Lin, eterno papagaio da gaiola da vizinha.
Quando a noite chegar e o canto dos pardais for trocado pelos gritos escuros do silêncio noturno. E a sensação de que nunca mais haverá dia, tomar conta de ti.  Se as nuvens perderem o significado de ternura, se transformando em simples fumaça. Quando tudo isso refletir em ti pavor, lembre-se: A noite também é parte do dia, e este, assim como os pardais precisa descansar. E as nuvens, com ou sem ternura; parecendo ou não fumaça, são favos de imaginação.