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Mostrando postagens de maio, 2013

O telefone

      Quando o telefone toca, têm-se duas opções: Atender ou não. Parece simples, porém não é. Se optar pela primeira opção, diversas notícias, boas ou ruins podem ser escutadas. Se optar pela segunda, somente se fará um longo ou breve atraso na recepção de notícias.       Nesta hora, o subconsciente começa a armazenar elementos. As preocupações se afloram: - Droga, devia ter atendido! Mas, não foi o caso, então a calma tem de ser mantida. Pensasse em ligar para a mamãe, para a vovó ou para a titia, porque se não fossem elas, não deveria ser importante. A tensão existe. É inevitável.       A curiosidade sempre é mais forte. É quase impossível se segurar. Aí se apertam alguns números e com o telefone preso na orelha, prepara-se um café forte e sem açúcar. Preto... bem preto. O cheiro é consumidor, e a ligação cai. Cortaram a linha. Não pagar pelo serviço não poder ser visto como simples opção.       Bem, agora vai ser inútil tentar ligar para a mamãe, para a vovó ou para a titia

Olhar incompleto

      Naquela noite ela o encarou com charme. O olhar o seguiu até o elevador, quando a porta se fechou. Foi corrompido e quis voltar ao encontro. Mais forte do que um esbarrão, o olhar disse tudo e o inundou como uma onda cheia do mar.       A chuva caía, a rua lamentava-se e as pessoas se esquivavam das poças, mas dentro dele algo fervilhava e fazia seu coração dançar. A curiosidade tomava conta dele. Quem seria ela? Era dona de alguém, ou pertencia a alguém? Descobrir seria um desafio, mas seus passos sumiram e a distância só aumentou.       Lavou o rosto, coçou a pele e tentou respirar fundo. Tentou, pois seu ar ficou preso nos cabelos da donzela desconhecida. Olhou pela janela, porém Nemo rastro avistou. O traje dela estava em sua mente. Por onde ela anda? Será que o esperava? Tomou coragem e enxugou a boca. Resolveu descer e ir atrás dela.       O porteiro fumava, observando a chuva cair. - Não sei para onde ela foi – disse ele, dando as costas para uma goteira se espal
Quão grande é o momento que tenho para sorrir. Possuo paz, mas não permissão para fugir. Apenas sorrir; ir e vir.

Ao entrar em um ônibus

           Entrar em um ônibus para alguns pode ser algo normal, porém para outros, como eu, é mais do que isso. São experiências, não nego. Aprendizados que levam para a vida ou pelo menos para o próximo coletivo. Bem, eu não cheguei a essas conclusões do nada. Pelo contrário, tive que estar na cena e vivê-la. Ainda sentia meu corpo pesado, pois não tinha passado muito tempo da hora do almoço. Minha barriga reclamava por ter comido além do necessário e meu instinto desejava uma tragada.           Ao longe eu o avistei. Vinha acelerando, com determinação, parecendo estar sozinho na avenida. O sinal fechou, obrigando-o a parar como todos os outros veículos. O ponto estava razoavelmente cheio. Cheirava a poeira de asfalto, lama seca da última chuva e perfume barato. O que mais eu poderia querer? Chegar ao meu destino, talvez, mas antes, o ônibus, claro. E lá veio ele, avançando pela faixa de pedestres e se aproximando, chegando bem perto.          Alguém esticou o braço, poupando-me

O pescador

          A tarde estava quase chegando ao fim. O calçadão, repleto de pernas, dava passagem para todas elas sem reclamar. Ali também eu passava com os ombros relaxados, os olhares a mercê da bela paisagem e o coração vibrando com o cheiro da maresia e o frescor da baía. Olhava para o mar, querendo ser o mar, e para o céu, querendo ser ele.           Foi aí que eu o avistei. Solitário, em pé, com os braços erguidos, colocando uma isca na vara mais pobre que lembro de ter visto. Ao seu lado um balde quebrado e quase sem cor dava abrigo para algumas moscas, disputando o melhor espaço. Com as calças dobradas até os joelhos e os pés dentro da água, fez um movimento brusco e lá se foi a isca para o fundo do mar. Um mar de peixes, de águas, de vida.  A linha se esticava e afrouxava conforme a água balançava. A espera por um peixe fisgar, vinha acompanhada da fumaça vinda do cigarro segurado com uma das mãos. Eu realmente queria entrar em sua cabeça para saber por alguns instantes o que e

Deixe..deixe..deixe

Deixe vibrar com as ondas do mar. Deixe bater o coração. Ele não para, mas eu te trago  ao seu lugar favorito. Deixe em paz a vontade de ter.  Viva sem olhar o viver. A perfeição existe, porém os erros podem  ser deixados de lado. Mova-se, deixando minha voz te guiar. Descubra, invente, irrite a solidão. Deixe acontecer, a noite descer e o  dia dizer o que o mundo quer ouvir. Sonetos e trovas; trocadilhos e prosas , deixe para o poeta. Deixe sua vida andar de acordo com a  vontade de suas sapatilhas. Cubra seus pés com meus passos. Insista, não desista, mas prossiga.  Junto com o estranho e a loucura. Deixe para depois a tristeza, e viva para sorrir. Deixe o deixar tomar conta, contudo não  me deixe sentado deixando tudo aqui.

Seu rastro

Seu rastro me atraiu... me atrai. Segui de norte ao sul pelos montes secretos de nossos mistérios e que não deixam pegadas. O marcante foi seu rastro, e é seu sorrir, essência maior de quem domina a pureza do corpo e calma do pouco. Senti minha alma estremecer como a terra branda diante de um terremoto. Não criei minhas verdades, mas as disse diante do sol. O mato verde balançando com o movimento de seus cabelos e o piscar de seus olhos. O rastro continua, de dia e de noite. A madrugada não é mais solitária e fria. Foi com você que dividi momentos, instantes divinos e fantásticos. Quem me dera e me dará ter o rastro vivo,  sempre perto de minha áurea, para de volta, na orla ficar sob o brilho do sol , que nunca cansa de brilhar.

O que é escrever?

              Outro dia uma palavra me abordou enquanto eu saía de casa, e perguntou com a expressão séria, o que eu pensava dela.  Nossa, por um instante me senti jogado contra a parede. Pedir para conversarmos mais tarde, porque estava atrasado não adiantou. Aproximou-se de mim, e novamente perguntou com um tom melancólico: - O que eu sou para você? Então, sem ignorar a chance apresentada comecei a falar.       - Bom escrever, escrever é a sublime arte de expressão do indivíduo. Pensar como humano e lançar no papel o que escorre pelos poros da caneta. Bem, senhora metáfora, bem-vinda ao meu pronunciamento, pois escrever é construir. Pôr o sol na noite e a lua no dia. Colorir o vento de uma tarde de outono e transformar as nuvens, fazendo com que passem de meros reservatórios de água, para grandes e suculentos favos de mel. Escrever por escrever é plausível, contudo é simplesmente escrever. Viver para escrever é vital. É saciar a fome abrupta e não a vontade de comer. Acabar com a

Ele é rei

Nada o trará de volta. Nem choro, nem gritos, nem palavras, nem salvas. Nada... Nem fechando e abrindo os olhos, desejando ser um sonho. Ou melhor, pesadelo. Nem socando paredes ou construindo outras. Nada... Quando ele vai, não volta para dizer como é do outro lado. Não existe saída ou disfarce. Ele foi e não volta mais. Ele: O TEMPO.
Segunda, terça, quarta, quinta, sexta. O que vem depois? Devaneio. No domingo... religião. Na segunda... esporro do patrão!

Reencontro explosivo

             Enfim, o dia chegou. Parei, olhei para a varanda no alto do prédio e imaginei que fosse lá. Imaginar nem sempre é o bastante para vencer o real. Desta forma, resolvi ligar para o telefone que tinha, e logo tive certeza. Feliz fiquei, afinal minha imaginação ainda estava fértil.           Depois de alguns segundos, um estalo fez o portão da entrada se abrir, e automaticamente meu braço se esticou para escancará-lo , dando passagem para o resto do meu corpo. Passei pelo tolo do porteiro, que nem se deu ao trabalho de perguntar quem eu era ou para onde ia. Se o padre não está na missa, não sou eu que vou rezá-la. Sendo assim, avancei pela escada, saltitando os degraus empoeirados.           De frente para a porta sentia meu estômago se revirar, e quase não consegui tocar a campainha. A porta se abriu. Era ela mesma. Linda e irresistível como sempre. Entrei com a cabeça erguida, olhando fixamente para ela, quase babando de tanta adrenalina. Alguém disse para entrar e ficar
O poeta anda na reta. Na reta do amor. Foge do horror, mata o desamor, criando um esplendor tênue de ardor!

Noite

      Já era tarde. Na verdade, bem tarde. As galinhas, as avós e as senhoras do convento já estavam dormindo. As galinhas com os galos, as avós com os avôs e as do convento com o terço. O céu estava límpido e compacto. As estrelas brilhavam soltas, e a lua parecia obesa de tão cheia. A outras noites não haviam sido tão majestosas, portanto apreciar era quase uma obrigação para quem estava acordado.       O canavial estava quieto e assombrado, assim como os cafezais, videiras e milharal. A vida parecia ter sido tirada desses e posta somente no céu. Naquele momento me pus em primeira pessoa, me tornando o lirista. Como não me empolgar, me deixar ser levado, me emocionar e ficar feliz? Como não ser o reflexo da bela noite? São perguntas, eram perguntas e sempre serão. Não basta estar ciente disso, mas é preciso viver as perguntas. Lua crua em vestes puras, onde está o seu lamento? Sou poeta, faço versos e quando os digo viro vento. Não existem versos presos, pois todos nascem

1º de Maio

        Tirei a camisa do cabide. Olhei, olhei novamente. Como usá-la? De tão amarrotada, meu estômago se revirou. Cabide + roupa amarrotada = Incoerência, pois para que serve o cabide, senão para evitar que a roupa se amarrote?   Sim, o problema começara em outro lugar: Na tábua de passar roupas, nas mãos da dona... ELVIRAAAAAA!!!!       A Paraíba, na certa, não a passou corretamente. De cima para baixo ou debaixo para cima, não importa, ela devia ter feito o serviço direito.  Este, de fato, estava ‘’esquerdo’’, e além de não ser canhoto, eu estava tremendamente  atrasado. Não havia solução para o meu dilema. Era quarta-feira, dia de usar camisa listrada, ou seja, usava aquela ou iria pelado.       O reflexo no espelho precisava me agradar, e o tal narcisismo jamais poderia faltar. Joguei-a para o alto, taquei no chão, pisei em cima, porém meus pés só fizeram a situação piorar. De amarrotada, ficou amarrotadíssima  e com a marca do meu pé suado , tamanho  quarenta  e três.  
        A morena chegou, passou a mão no cabelo e fingiu não reparar nos muitos olhares que recebia. Ela me olhou com desejo, mas acredito que não sabe sobre minha cegueira. Pôs-se como a égua seduzindo o garanhão. Queria levar para casa as lembranças de maus toques, beijos e abraços, porém acredito que ela não sabe sobre minha cegueira.        Eu estava sentado, ela de pé. Quase que sem querer ela esbarra em uma mesa com o quadril esculpido por Deus. Um pedido de desculpas em vão, porque a resposta não aconteceu. Ela não sabe, mas eu sou surdo e mudo, também. Arrepende-se por não ser mais cuidadosa, ameaçando ir embora, entretanto... Estava arrependida, sem graça; sem graça e arrependida, porém não tinha desistido. Foi mais além. Chegou mais perto com a pele arrepiada. Ficou imóvel. Disse que, sim, ela havia encontrado a batida necessária para seu ser voltar a viver, e a vida não parar em qualquer mesa de bar!        Quem sou eu? Um coração apaixonado, que fica cego, mudo e surd