Ao entrar em um ônibus
Entrar em um
ônibus para alguns pode ser algo normal, porém para outros, como eu, é mais do
que isso. São experiências, não nego. Aprendizados que levam para a vida ou
pelo menos para o próximo coletivo. Bem, eu não cheguei a essas conclusões do
nada. Pelo contrário, tive que estar na cena e vivê-la. Ainda sentia meu corpo
pesado, pois não tinha passado muito tempo da hora do almoço. Minha barriga
reclamava por ter comido além do necessário e meu instinto desejava uma
tragada.
Ao longe eu o avistei. Vinha
acelerando, com determinação, parecendo estar sozinho na avenida. O sinal
fechou, obrigando-o a parar como todos os outros veículos. O ponto estava razoavelmente
cheio. Cheirava a poeira de asfalto, lama seca da última chuva e perfume
barato. O que mais eu poderia querer? Chegar ao meu destino, talvez, mas antes,
o ônibus, claro. E lá veio ele, avançando pela faixa de pedestres e se
aproximando, chegando bem perto.
Alguém esticou o braço, poupando-me mai este sacrifício. Um velho, que
na certa iria entrar sem pagar, chamaria
o motorista de meu filho e sentaria em seu lugar exclusivo de cor amarela. Não,
eu jamais sentaria perto dele. E assim aconteceu. Ele caminhou até a porta, a
qual se abriu. Ele entrou, eu entrei. Ele pela frente e eu por trás, pagando
com moedas emergenciais, porque meu Rio Card estava zerado. Mais constrangedor
do que isso, só aturar o trocador assobiando a música alta tocada, que deveria
ser ambiente e me cuspindo a casa soprada.
Em um ônibus
é interessante. A gente aprende cada coisa. Verdadeiras lições, diria mais. Tem
sempre alguém que prefere ficar em pé no corredor mesmo com lugares vazios. As
pessoas sentadas sempre fingem um estado de sono profundo quando percebem a
presença de algum idoso. Há sempre aqueles que parecem estar assados e sentam
de pernas abertas, roçando irritantemente os cabelos, Ou outros que se informam
com o jornal alheio. Enfim, se encontra de tudo.
Sentei junto
de uma senhora inquieta. Se mexia, fungava, abria a boca, estalava os dedos.
Parecia uma das molas da suspensão do ônibus, movendo-se com os impactos. Não
ia me irritar com ela, afinal já ia descer e sair daquele castigo. Um guarda de
trânsito em chamou a atenção, fazendo-me perceber o momento de levantar,
esticar a lombar, pedir licença e passar por todos aqueles corpos aglomerados.
Foi o que fiz, me projetando para fora logo em seguida.
No fim das
contas não foi algo tão complexo. Recomendo o uso dos coletivos, mas não se
esqueçam nunca: De um ônibus, se salta, e não se solta !
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