A morena chegou,
passou a mão no cabelo e fingiu não reparar nos muitos olhares que recebia. Ela
me olhou com desejo, mas acredito que não sabe sobre minha cegueira. Pôs-se
como a égua seduzindo o garanhão. Queria levar para casa as lembranças de maus
toques, beijos e abraços, porém acredito que ela não sabe sobre minha cegueira.
Eu estava sentado,
ela de pé. Quase que sem querer ela esbarra em uma mesa com o quadril esculpido
por Deus. Um pedido de desculpas em vão, porque a resposta não aconteceu. Ela
não sabe, mas eu sou surdo e mudo, também. Arrepende-se por não ser mais
cuidadosa, ameaçando ir embora, entretanto... Estava arrependida, sem graça;
sem graça e arrependida, porém não tinha desistido. Foi mais além. Chegou mais
perto com a pele arrepiada. Ficou imóvel. Disse que, sim, ela havia encontrado
a batida necessária para seu ser voltar a viver, e a vida não parar em qualquer
mesa de bar!
Quem sou eu? Um
coração apaixonado, que fica cego, mudo e surdo, com as mãos atadas, ao sentir
a presença ardente de uma paixão.
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