Tacaram uma pedra no meu telhado!
Tacaram uma pedra no meu telhado. No meu telhado , que é de vidro. Está sobre minha cabeça e sob o céu estrelado de uma noite qualquer. O galo já havia cantado, os menininhos arteiros ido para suas casas , para lavarem os pés negros de correr pelas ruas empoeiradas do bairro. Eu estava recostado em uma almofada e colocava o peso dos pés em um travesseiro. O lençol da cama ainda estava quente do forte sol que recebera há algumas horas. Com os olhos quase fechados e enxergando pouco as luzes da Tv , escutei aquele barulho seco , como se realmente uma pedra tivesse atingido em cheio o meu telhado. Levantei rápido , correndo para a janela , pois queria saber da onde a tal pedra teria vindo. Com a cortina levemente afastada , observei um grupo de rapazes que jogavam capoeira , uma senhora com um lenço roxo na cabeça e um casal de namorados , ou que curtia uma amizade colorida , passando do outro lado da rua. Enquanto tentava decifrar aquele mistério , em minha cabeça só ecoava o ruído da pedra que tacaram no meu telhado.
Abri a janela , debrucei-me sobre ela e comecei a imaginar quem poderia ter sido o inconsequente. Olhei firme para a roda dos capoeiristas e percebi que cada movimento conotava muita felicidade. Estariam felizes pelo fato de terem conseguido apedrejar meu telhado? Bem , continuei olhando aquelas pernas cruzando o ar e se entrelaçando umas com as outras , e decidi não acusa-los em vão. Mudei meu olhar para a senhora do lenço roxo. Ela andava vagarosamente pela calçada puxando um carrinho de feira , coberto com uma espécie de suéter. Estaria o carrinho cheio de pedras? Captei seu olhar e notei que estava triste. Bom , seria uma tristeza por um possível arrependimento? Um arrependimento por ter tacado uma pedra no meu telhado? A agitação tomava conta de mim , e nem a vovozinha escapava de minha incansável suspeita. Entretanto , qualquer suspeita contra ela foi eliminada quando ela parou , destampou o carrinho , e dessa forma , eu pude ver com clareza o que ela carregava ali. Eram dúzias de bananas , bem amarelinhas e apetitosas. Simples bananas , assim como eu me sentia por ter desconfiado dela.
Foi aí que me percebi. A pedra não poderia ter vindo da rodinha de capoeira ,nem da pobre senhora. Agora , só me restava analisar o casal que passeava. Eu sabia , e sei, que o homem tem uma mania insistente de querer impressionar , não só a mulher que está do seu lado , mas também aquelas que estão à sua volta. É normal e faz parte da teoria da dominação territorial. Com certeza , nesse caso não seria diferente. Ele tinha cara de ter lá seus vinte anos , e ela uns dezoito. Devia ser um daqueles encontros furtivos , buscando uma rua sossegada , livre de muitos olhares e carros buzinando sem parar. Um encontro esperado durante todo o dia por eles. Poderia entender tudo isso , se não fosse pelo fato de pensar que um deles tacou uma pedra no meu telhado. Bem , na verdade , acreditava muito pouco , que uma menina com mãos delicadas e indefesa pudesse fazer isso. Mas...
A tensão e ansiedade em identificar o culpado já faziam meus ombros doerem e minha cabeça girar. Em outra época , não ligaria , porém troquei o telhado há muito pouco tempo , e não foi barato. Quanto mais o tempo passava , mais eu me decepcionava ,porque estava notório que não conseguiria saber quem teria tacado a pedra em meu telhado. Uma conclusão inesperada me chegou. Presumi , que aquele garoto nunca poderia ter tacado a pedra , pois pelo seu olhar para se ver ,que estava amando demais para perder tempo fazendo outras coisas que não fossem : Beijar , abraçar e dizer coisas bonitas no ouvido da menina.
Pois bem , depois de algumas horas naquela análise , sem nenhum progresso , resolvi deixar toda essa história pra lá , e não ficar mais preocupado , ou tentando imaginar quem poderia ter sido o desalmado que jogou uma pedra no meu telhado , e acabar acusando pessoas inocentes. Até porque , tendo agora um telhado de vidro , não é aconselhável , nem bom , jogar pedra no dos outros!
Jr,
ResponderExcluirAdorei. Nos ensina que não devemos falar dos outros se não olhamos primeiro para nós mesmos.
Mana