Nos olhos da morena
Ele andava
lentamente com o olhar fixo no caminho rumo ao Banco. Estava acostumado a fazer
depósitos bancários todas as terças-feiras. A mochila de couro polido
esquentava suas costas e deixava sua pele presa na camisa preta. Se desviava
das pessoas que vinham em sua direção com pensamentos incertos e perdidos. A
cada esbarrão , um pedido de desculpa. A cada expressão de raiva , a certeza de
que a mansidão dos seres-humanos está quase extinta. O vento tranquilizador que vinha da praia
refrescava seu rosto e a maresia perfumava o ar. Os carros e motos passavam a
todo o momento , mas o ronco dos motores rebeldes não o assustava. Estava
focado em resolver logo suas pendências , para poder almoçar e apreciar o
quebrar continuo das ondas. Em algumas partes do trajeto via crianças sem
limites fazendo pirraça com seus pais. Alguns com paciência , somente olhavam
para os filhos , porém outros arriscavam beliscões e palmadas para imporem uma
simbólica moral. Simbólica , porque a criação dos pequenos está, a cada avanço
temporal perdendo dogmas e diretrizes usados antigamente. Uma acomodação
visível dos responsáveis , que para evitarem retaliações , preferem abrandar as
redias.
Foi pensando
nisso ,que a chegada na agência bancária aconteceu. Respirou fundo , abriu a
mochila , retirou o cartão e entrou pela porta giratória. Se posicionou na fila
, com umas doze pessoas , colocando a mochila no chão para aliviar sua coluna.
O som das máquinas ia dando ritmo ao andamento e em minutos havia chegado a sua
vez. Com a mochila ainda no chão , pegou um envelope com a quantia em espécie ,
distribuindo-a em outros dois envelopes.
Ao colocar na máquina ,retirou o cartão
, finalizando a operação , dando as costas e saindo da agência. Foi
impossível não perceber a diferença de temperatura ao entrar em contato com o
mormaço do lado de fora. Sentiu por segundos uma sensação extremamente
desconfortável. Após andar alguns
metros , posicionou-se na faixa de pedestres para atravessar a rua. Estava indo
em direção da praia. Aparentemente , estava sozinho ali , mas antes de ter essa
certeza , algo impactante chamou a sua atenção. Um olhar não familiar ,mas que
despertou nele algo extraordinário. Na verdade , um olhar feminino e carregado
de charme. Não conseguiria dar meio passo sem aprisiona-la em sua mente.
Com altura
mediana , olhos castanhos ,pele morena e andar sutil ,ela estava parada do seu
lado , com os cabelos um pouco acima dos ombros de cor preta , sendo balançados
pelo vento dos carros que passavam constantemente em filas duplas. A bolsa
clara com pele de onça estampada realçava sua saia preta. Bem , não resistiu e
a olhou diretamente com certa obsessão ,
mas sem perder a classe. Para seu espanto , ela não se espantou , retribuindo o
olhar e acrescentando um espontâneo e alegre sorriso quando o cumprimentou. Ao
cessar o sorriso , viu de seus lábios carnudos e bem desenhados sair um : - Sim
, estou indo para a praia! O sinal já tinha fechado e aberto inúmeras vezes ,
mas não era no mesmo , que pairava seu interesse. Convidou-a para ir com ele , sentar e ver o
mar , trocar algumas palavras ou nome , por exemplo. Ao chegarem do outro lado
, ele sentiu os respingos da maresia e teve seu corpo relaxado por estes. Ela
deixava os cabelos livres ilustrarem a paisagem , tão esplendida quanto a paz
sentida.
Sentaram com as
pernas cruzadas em posição de índio e se olharam ligeiramente. Seus lábios
estavam carentes e o toque na pele era muito desejado , mesmo que em silêncio.
Ele arriscou uma sequencia de palavras: - Prazer , Giusep! De imediato ela
respondeu: - Anita ! Arriscou mais uma vez , dizendo que Anita era um nome
lindo. A moça , sem perder tempo continuou , agradecendo e perguntando a origem
de seu nome. Sem sabe ao certo , enumerou uma série de países do mundo. Isto ,
a fez rir , como se tivesse achado muito lindo o fato dele estar todo
enrolado. Os olhares se encontraram
depois de estarem perdidos. Não restavam dúvidas , que eles se desejavam de
forma humana e queriam viver um intenso
amor de forma sobrenatural. A aproximação , os primeiros toques nos cabelos e o
carinho nas mãos foram inevitáveis. Os ombros se colaram e ficaram de frente um
para o outro. Se concentrarem em seus pontos fracos e jogaram no mar as
responsabilidades. Aqueles eram momentos únicos e nada poderia atrapalhar.
Se beijaram
, primeiro com cuidado e suavidade , porém depois o ardor
lhes invadiu e o beijo se tornou ardente e interminável. As batidas estavam
sincronizadas. Ele sentia sua respiração , ela o encanto. Os lábios se
espalhavam com doçura , sendo ritmados pelo som das aves , que em bando
gorjeavam sobre o mar. Entretanto ,
quando ia realmente tomar o controle , com mais vontade e desejo ,
acordou em sua cama , com os cabelos suados , mãos quentes e uma sensação
ofegante, que contagiava sua respiração. A janela estava aberta e presenciou
quando ele se lamentou por ser somente um sonho , derramando lágrimas
solitárias dos olhos. Os mesmos olhos que viram a morena.
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