Das lágrimas vistes , oh mar salgado
Há muito tempo em
cima de uma nuvem , um homem chorava. Era a maior e mais alta que havia no céu.
Abraçava-se para tentar esquecer aquelas angústias , sentindo-se a pior das
criaturas. Seu interior estava sem cor , assim como os pardais e gaivotas que
tentavam alegrá-lo. Com a garganta arranhada e o peito rasgado , tinha suas
lembranças como um general autoritário , que estilhaça seu exército.
O vento deixava
seus cabelos ainda mais bagunçados , chegando a rasgar algumas partes de suas
vestes. Seus pés ainda estavam negros , pois havia tentado sumir , correndo
pelo solo empoeirado. De fato , muitos se espantavam com o que viam e até o
chamavam de louco varrido. Deste modo , o único e último lugar que poderia se
isolar era alguma nuvem. Havia perdido seu amor. Seu grande e forte amor , que
parecia nunca sucumbir. Um segundo bastou para mudar algo , fazendo surgir
outro momento. Seu coração estava esmigalhado e batia sem razão. Vivia por
viver , mesmo nas grandes alturas.
Tinha acordado
cedo , ansioso e muito apaixonado. Com um arranjo florido saiu de casa ,
deixando seus pés o levarem ao destino de sua felicidade. A rua , as pessoas e
os ruídos não o perturbavam e distribuíam sorrisos por nada. Sonhou com sua
paixão sem moderação e realizá-lo era a meta do seu dia. Entretanto , ao chegar
perto da casa de sua amada , um estranho silêncio foi percebido , mesmo que
estivesse havendo movimentos. Sim , era
um silêncio interior. A casa estava sombria , fechada e na varanda sentada
estava ela , olhando para baixo , com
papeis nas mãos , pés descalços e solidão sentada ao seu lado. Ao chegar perto
dela nada foi dito. Se olharam e ele se
aproximou. Parou na frente , ergueu as mangas da blusa , colocou as flores em
cima de uma mesinha e resolveu perguntar o que estava acontecendo. Ela , agora com lágrimas nos olhos, esticou as
mão , deixando claro que estava devolvendo as cartas e poemas dados por ele. Em
seguida , disse que o tempo havia pregado uma peça. O amor que parecia eterno ,
tinha se esfriado e continuar com aquilo seria uma grande farsa. Ele se
esforçava para tentar entender ou aceitar. Ela se levantou , ameaçou virar as
costas e antes que isso fizesse , ele perguntou se eram suas últimas palavras.
Ela respondeu que não. As últimas foram: - Saia daqui e me esqueça , porque não
voltarei atrás. Como se tivesse
tomado um tiro no peito , se encolheu e virou as costas sem dizer nada. Andou alguns
metros e depois iniciou sua corrida rumo a tentar desaparecer.
Foi para sempre
enquanto durou. De seus olhos escorreram as últimas lágrimas. Estavam guardadas
dentro dele , pois até aquele dia não tivera motivo para choro , mas sim só
sorrir. Foram numerosas e exageradas , caindo em queda - livre de cima das
nuvens , indo para o chão. Com a ajuda do vento , ondas foram se formando.
Primeiro marolas e depois imensidões. Formou-se então , o mar , salgado e
líquido pelas suas lágrimas.
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