Foi assim durante quase todas as
manhãs em que o frio ou calor me sucumbiram ao ponto máximo da exaustão: parar
e pensar; sentar e levantar; rodopiar em pensamentos forasteiros e chegar à
conclusão de que o tudo e o nada de barriga cheia. Porém, apesar de estar
nessas manhãs, não me recordo de todas as noites.
As noites foram xícaras de café
empilhadas no silêncio, contudo fazendo grande estrondo ao caírem desoladas no
chão empoeirado e encardido, como as tais xícaras.
O café nem era tão importante. Aproveitava
enquanto a fumaça cinza me encantava com o vapor, entretanto depois, mesmo sem
ter entornado o café em meu estômago, já pedia outra xícara, repetindo o mesmo
ritual.
Alguém sempre passava e questionava
sobre a cena, porém não pagava a conta, então, já que meu bolso seria
esvaziado, apenas olhava e lambia o bigode amargo.
E ouvia: -Nossa! Viciado em café,
mesmo!
Pensava comigo: - É... e você é
viciado em não ter o que fazer e expurgar seu vazio em forma de julgamento.
Deixe meu cafezal crescer livre e cuide da sua própria plantação, pois existem
pragas silenciosas que atacam na menor distração.
Café sem açúcar é algo que indica
psicopatia? Ótimo, pois de todas as pleonásticas idiotices que escuto, até que
essa me faz rir.
Tolos inconscientes, que andam trôpegos
em sua tolice programada. Por que deveria eu, ali, na noite me importar?
Uma das xícaras tinha uma grossa de
batom. Se era “parisiense” ou não, pouco importava, pois a questão era: já
teria beijado essa boca? Seria a noite, um vendaval sempre a trazer o refresco
e o esquecimento?
Interrogo-me sem buscar respostas,
answers ou acciones.
De fato, o batom colava em meus
lábios, o vapor em meus olhos e a culpa em meu coração.
A noite nunca deixava de ser noite,
mas o dia trazia a dúvida quanto à noite. Fechava os olhos, escutava a música,
sentia cheiros, sinestesias como uivos de um lobo solitário, tentando reclamar
com a lua.
A lua nua, crua, pura e alta. Tenho
medo de altura, então... não vou lembrar. Mas quem estava no céu e quem estava
na terra?
A lua não está na terra? Não é o
satélite natural da terra? Eu piso na terra, então, quem está mais alto? Eu ou
a lua?
E nas manhãs eu me prostrava em meus próprios
joelhos, pois meus pés me levam para onde quero, porém são os joelhos que
carregam o peso disso.
Tirei
o peso dos ombros, e os joelhos ficaram ainda mais pesados. Romperam-se e rolei
no tapete, virando pó que a vassoura iria recolher.
É melhor não lembrar de tudo É melhor não
notar a noite. Melhor apenas ser e viver, porque o que está longe, perto pode
ficar, e o perto demais pode te atropelar.
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