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O telefone

      Quando o telefone toca, têm-se duas opções: Atender ou não. Parece simples, porém não é. Se optar pela primeira opção, diversas notícias, boas ou ruins podem ser escutadas. Se optar pela segunda, somente se fará um longo ou breve atraso na recepção de notícias.       Nesta hora, o subconsciente começa a armazenar elementos. As preocupações se afloram: - Droga, devia ter atendido! Mas, não foi o caso, então a calma tem de ser mantida. Pensasse em ligar para a mamãe, para a vovó ou para a titia, porque se não fossem elas, não deveria ser importante. A tensão existe. É inevitável.       A curiosidade sempre é mais forte. É quase impossível se segurar. Aí se apertam alguns números e com o telefone preso na orelha, prepara-se um café forte e sem açúcar. Preto... bem preto. O cheiro é consumidor, e a ligação cai. Cortaram a linha. Não pagar pelo serviço não poder ser visto como simples opção.    ...

Olhar incompleto

      Naquela noite ela o encarou com charme. O olhar o seguiu até o elevador, quando a porta se fechou. Foi corrompido e quis voltar ao encontro. Mais forte do que um esbarrão, o olhar disse tudo e o inundou como uma onda cheia do mar.       A chuva caía, a rua lamentava-se e as pessoas se esquivavam das poças, mas dentro dele algo fervilhava e fazia seu coração dançar. A curiosidade tomava conta dele. Quem seria ela? Era dona de alguém, ou pertencia a alguém? Descobrir seria um desafio, mas seus passos sumiram e a distância só aumentou.       Lavou o rosto, coçou a pele e tentou respirar fundo. Tentou, pois seu ar ficou preso nos cabelos da donzela desconhecida. Olhou pela janela, porém Nemo rastro avistou. O traje dela estava em sua mente. Por onde ela anda? Será que o esperava? Tomou coragem e enxugou a boca. Resolveu descer e ir atrás dela.       O porteiro fumava, observando a chuva cair. - Não sei para onde ela...
Quão grande é o momento que tenho para sorrir. Possuo paz, mas não permissão para fugir. Apenas sorrir; ir e vir.

Ao entrar em um ônibus

           Entrar em um ônibus para alguns pode ser algo normal, porém para outros, como eu, é mais do que isso. São experiências, não nego. Aprendizados que levam para a vida ou pelo menos para o próximo coletivo. Bem, eu não cheguei a essas conclusões do nada. Pelo contrário, tive que estar na cena e vivê-la. Ainda sentia meu corpo pesado, pois não tinha passado muito tempo da hora do almoço. Minha barriga reclamava por ter comido além do necessário e meu instinto desejava uma tragada.           Ao longe eu o avistei. Vinha acelerando, com determinação, parecendo estar sozinho na avenida. O sinal fechou, obrigando-o a parar como todos os outros veículos. O ponto estava razoavelmente cheio. Cheirava a poeira de asfalto, lama seca da última chuva e perfume barato. O que mais eu poderia querer? Chegar ao meu destino, talvez, mas antes, o ônibus, claro. E lá veio ele, avançando pela faixa de pedestres e se apro...

O pescador

          A tarde estava quase chegando ao fim. O calçadão, repleto de pernas, dava passagem para todas elas sem reclamar. Ali também eu passava com os ombros relaxados, os olhares a mercê da bela paisagem e o coração vibrando com o cheiro da maresia e o frescor da baía. Olhava para o mar, querendo ser o mar, e para o céu, querendo ser ele.           Foi aí que eu o avistei. Solitário, em pé, com os braços erguidos, colocando uma isca na vara mais pobre que lembro de ter visto. Ao seu lado um balde quebrado e quase sem cor dava abrigo para algumas moscas, disputando o melhor espaço. Com as calças dobradas até os joelhos e os pés dentro da água, fez um movimento brusco e lá se foi a isca para o fundo do mar. Um mar de peixes, de águas, de vida.  A linha se esticava e afrouxava conforme a água balançava. A espera por um peixe fisgar, vinha acompanhada da fumaça vinda do cigarro segurado com uma das mãos. Eu rea...

Deixe..deixe..deixe

Deixe vibrar com as ondas do mar. Deixe bater o coração. Ele não para, mas eu te trago  ao seu lugar favorito. Deixe em paz a vontade de ter.  Viva sem olhar o viver. A perfeição existe, porém os erros podem  ser deixados de lado. Mova-se, deixando minha voz te guiar. Descubra, invente, irrite a solidão. Deixe acontecer, a noite descer e o  dia dizer o que o mundo quer ouvir. Sonetos e trovas; trocadilhos e prosas , deixe para o poeta. Deixe sua vida andar de acordo com a  vontade de suas sapatilhas. Cubra seus pés com meus passos. Insista, não desista, mas prossiga.  Junto com o estranho e a loucura. Deixe para depois a tristeza, e viva para sorrir. Deixe o deixar tomar conta, contudo não  me deixe sentado deixando tudo aqui.

Seu rastro

Seu rastro me atraiu... me atrai. Segui de norte ao sul pelos montes secretos de nossos mistérios e que não deixam pegadas. O marcante foi seu rastro, e é seu sorrir, essência maior de quem domina a pureza do corpo e calma do pouco. Senti minha alma estremecer como a terra branda diante de um terremoto. Não criei minhas verdades, mas as disse diante do sol. O mato verde balançando com o movimento de seus cabelos e o piscar de seus olhos. O rastro continua, de dia e de noite. A madrugada não é mais solitária e fria. Foi com você que dividi momentos, instantes divinos e fantásticos. Quem me dera e me dará ter o rastro vivo,  sempre perto de minha áurea, para de volta, na orla ficar sob o brilho do sol , que nunca cansa de brilhar.